C a p í t u l o 1
Arte popular
O Cariri é reconhecido como um celeiro de cultura na região. São diversos tipos de representações culturais que vão desde tradicionais festividades à produções musicais e literárias. E é no CraJuBar que estão presentes centros de referência na produção de literatura de cordel e artesanato nas suas mais variadas formas.
Você já ouviu falar da Lira Nordestina?
A Lira Nordestina é a maior referência do Cariri no que tange a xilogravura e cordel. É parte importante da história do Cariri desde 1936, quando ainda era conhecida como tipografia São Francisco, e desde então continua como o ambiente vivo de produção, encontro entre artistas e distribuição cultural. São poetas, repentistas, xilógrafos e pesquisadores que consagram esse solo de energia fixa, mas com endereço móvel.
Segundo Alexandre Lucas, articulador da Lira Nordestina, ela originalmente sempre funcionou no Pirajá “o espaço foi criado para Lira estar lá”. Posteriormente a lira vai para a estação, depois retorna para o Pirajá. E agora, está no Centro Multiuso de Juazeiro do Norte- Vapt Vup. “Não sabemos até quando, porque existe uma proposta de que a Lira seja redimensionada para outro espaço”, discorre Alexandre. Diz ainda que “será um espaço mais favorável, inclusive para os artistas, do ponto de vista comercial e de circulação de pessoas”. Essa rearticulação está sendo pensada junto à Prefeitura Municipal e é de grande importância, já que, segundo o articulador o local atual ainda “é um espaço ainda pouco conhecido”.
Além das máquinas, a Lira Nordestina mantém os móveis de José Bernardo, os cavaletes de tipos (onde se colocam as letras) e a capas originais de vários cordéis.
"A Lira tem importância do ponto de vista tanto do patrimônio material como imaterial. Hoje ela detém um grande acervo de máquinas tipográficas, clichês e de tipos. Conseguindo resgatar uma quantidade enorme de materiais que fizeram parte das tipografias que se caracterizaram no nordeste”, destaca Alexandre.
A Universidade Regional do Cariri, mantenedora da tutela da Lira atualmente, está com uma proposta junto à escolas locais de tornar o espaço permanente para visitação educativo-cultural. A ideia é transformar o local em uma espécie de museu, e mais ainda, trazer para esse espaço a fruição estética e artística que possa circular por outros espaços além do circuito dos artistas como espaços escolares em que o público geralmente não tem acesso a esse tipo de produção.
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A Lira tem essa possibilidade de fomentar e contribuir com o processo de alfabetização estética e artística do Cariri
Alexandre Lucas
Administrador da Lira Nordestina
Rimas que criam narrativas
O cordel é um tipo de literatura popular muito conhecida no Brasil, oral ou impresso, não é de se admirar que entre as inúmeros produções artísticas da Lira Nordestina esteja também presente o conhecido folheto de cordel, ele que é feito em forma de poesia, escrita em rima com alguns poemas ilustrados com xilogravuras, as estrofes mais comuns são de seis, oito ou dez versos, traz em seu conteúdo as histórias, relatos e assunto mais variados possíveis. Eram geralmente colocados em vendas pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome herdado de Portugal que tinham a tradição de pendurar folhetos em barbantes. Ela se espalhou para o Nordeste do Brasil, e o nome acabou permanecendo.

O folheto de Cordel é uma junção da poesia do repente com a xilogravura, as criações dos artistas da Lira Nordestinas, muitos dos poetas fazem desde a xilogravura até escrever os versos, como é o caso do xilógrafo e poeta Francisco Bruno Elias da Silva, Bruno destacou que este trabalho é uma união de dom e técnica. O esforço de estudar e entender vários assuntos como a métrica a rima com o dom de versejar como os repentistas fazem são características importantes para um cordelista.
Ainda frisou o esforço e a importância da cultura do Cordel, mesmo com tudo o cordelista e xilógrafo ainda tem o seu espaço havendo ainda inclusive empresários que investem neste tipo de produção literária, geralmente trabalhos para grandes eventos até mesmo internacionais, como destacado por ele já escreveu só por prazer mas hoje tem recebido algumas encomendas.
O cordel precisa de um tempo para o seu desenvolvimento, para "colocar a ideia no papel" com dia Bruno, mas há uns poetas que dominam a arte do improviso e criam rimas com narrativas encantadoras: Os repentistas.
Para Bruno escrever Cordel é algo viciante apesar de não ser algo que seja fácil viver disso, ele destaca a felicidade em produzir seus cordéis.
O repente ou também conhecida como cantoria se faz presente na Lira Nordestina, apesar de ter como peça central o cordel impresso e a xilogravura, o repente está sempre presente nos eventos promovidos pela instituição, afinal semelhantemente aos cordéis os cantadores trazem em sua arte a poesia, mas de forma cantada, eles improvisam versos sobre os mais variados assuntos, surgiram da tradição medieval dos Trovadores
O repente já é bem característico da região nordeste principalmente nos sertões paraibano e pernambucano, mas sendo também praticado nos mais diverso locai do Nordeste, entre eles Ceará e consequentemente no Cariri até hoje perdura arte de fazer improviso nas feiras livres, onde os artistas se apresentam sozinho ou trocam versos com outro cantador há ainda os chamados desafios.
Repente
A madeira toma forma e ganha vida
João Bandeira de Caldas
Repentista
73 anos. Nascido em São José dos Piranhas na Paraíba.
Desde 1961 faz cantoria, 54 anos fazendo repente em programas de rádio e sempre participa de torneio e encontros de repentistas, festivais, lançando livros, contribuindo sempre com a cultura da região do Cariri.
Formado em história pela universidade Federal do Cariri. Mas viveu sempre em torno da poesia, criou toda a sua família com o sustento da arte em torno da poesia.
Cantou em vários locais do Brasil participando de inúmeros eventos acompanhado de seu irmão Pedro bandeira.
Na região, é forte a presença da madeira nos mais diferentes tipos de arte. Mas ganha uma força e significado bem maior em duas: Xilogravura e peças do Centro Cultural Mestre Noza. Em ambos casos o trabalho é feito de forma manual e com artesãos da região.
Xilogravura, que arte é essa?
Etimologicamente, a palavra xilogravura tem raízes gregas: xilon (madeira) e grafó (gravar, escrever). É a arte de escrever e desenhar na madeira, cujas origens se perdem no tempo. No Nordeste brasileiro, sempre existiu a dobradinha xilogravura-cordel, e ganharam lugar cativo nas capas.

Essa dobradinha de cordel e xilogravura, segundo estudiosos, já faz cem anos de existência. Na região do Cariri a Xilogravura ganha uma característica marcante ao ilustrar os cordéis, em especial suas capas. E foi através da Lira Nordestina que surgiu muitas xilógrafos. Os gravadores da região que hoje fazem parte da Lira, em sua grande maioria, foram inspirados por familiares ou amigos que trabalhavam na antiga tipografia São Francisco. “O pessoal que tá aqui é uma família”, afirma com orgulho o xilógrafo José Lourenço Gonzaga, diretor artístico da Lira e presidente da AXARCA - Associação dos Xilógrafos e Artesãos do Cariri.

AXARCA - Associação do Xilográfos e Artesãos do Cariri
Fruto de uma parceria entre xilógrafos e artesãos da antiga tipografia São Francisco, atual Lira Nordestina, Juazeiro do Norte/Cariri-Ceará.
Fundada no ano de 2012, vem com o intuito de congregar e promover o resgate da arte popular caririense. Grande parte dos seus associados é pioneira na arte da xilogravura, como os irmãos José, Cícero e Demontier Lourenço, Nilo, Airton Laurindo e Cosmo Brás.
Funcionamento
A AXARCA desenvolve projetos de apoio e disseminação da xilogravura, pintura, escultura, entre outras artes, através da realização oficinas, exposições e apoiando o artesão no tocante à valorização do mesmo como profissional.
Atualmente não estão sendo passados projetos pela associação haja vista uma pendência. Devido a uma suposta medição errada do ambiente em que a associação funcionava ela ficou inadimplente e sem funcionamento atual. O presidente da AXARCA, José Lourenço Gonzaga informa que em breve ela estará ativa novamente. “Estou lutando muito para que em breve ela volte realizando vários projetos, especialmente na linha de oficinas e principalmente para o nosso povo”, declara José ao referenciar que hoje geralmente são oferecidas oficinas para pessoas que vem de fora.
Hoje o universo de opções no mercado da xilogravura tem crescido cada vez mais. Antes a xilogravura estava mais restrita às ilustrações de cordéis, álbuns e xilo grande, que era difícil vender. E, a partir da necessidade de popularização e reconhecimento para a arte, os artesãos começaram com a ideia de usar xilogravura em vários produtos como: Caneca, chinelo, camiseta quadrinhos de cerâmica e outros. Em parceria com o CEBRAC e o SESC as novas idéias começam a ser colocadas em prática e fizeram com que a xilo se mantivesse no mercado e ganhasse destaque no Brasil inteiro e até internacionalmente.
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Xilogravura é a arte da criação e do amor
É muito importante para minha vida, eu não me vejo fazendo outra coisa
José Lourenço
Diretor artiistico da Lira e presidente da AXARCA

É de família
Estar na lira e trabalhar com xilogravura veio de geração em geração.
Cícero Lourenço
Xilógrafo e Vice presidente da AXARCA

O processo para fazer começa com a imaginação
Mas na realidade o que a gente precisa é de mais apoio
Cícero Vieira
Xilógrafo

Simplesmente maravilhosa
a xilo é uma arte gratificante. É um dia-a-dia trabalhando com algo que a gente gosta.
Airton Laurindo
Xilógrafo

A tradição é preto no branco
apesar de já fazermos xilogravura colorida ainda prezamos pela tradicional.
Francisco Bruno
Xilógrafo e Cordelista
Arte Popular
Centro Cultural Mestre Noza
É imensurável a importância artística e cultural das obras produzidas no Centro Cultural Mestre Noza. Todo o ambiente é recheado de obras prontas e em execução que irão para o mundo todo. A localização do centro cultural também é propícia, pois o centro da cidade de Juazeiro do norte é em si já mais que movimentada. Todos os dias, em sua maioria turistas vindos do Brasil inteiro, visitam a associação as obras maravilhosas dos artistas que chama atenção para as cores e a diversidade do que se pode fazer com o talento e a madeira.
O nome Mestre Noza é em homenagem ao primeiro escultor da região. Engana-se quem pensa que o Mestre Noza era da região do Cariri, na verdade ele era de Cajazeiras na Paraíba, veio como romeiro e começou a esculpir peças do Padre Cicero, a princípio não muito boas. O Centro de Cultura surgiu em 1983, no antigo prédio da Polícia Militar do Ceará, que foi resignificado com o apoio da secretaria Municipal de Cultura do Estado. Na realidade o nome do Centro Cultural Mestre Noza originalmente é associação dos Artesãos do Padre Cicero, e posteriormente homenageou quem foi o Mestre Noza.
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Todo artesão do Mestre Noza é “cria da casa”, essa tradição de passar o conhecimento de geração em geração é seguida a risco na associação, e não é permitido que outros artistas façam migração para o centro Cultural. Para ser um artesão do Mestre Noza é necessário “nascer” lá, o frequentar e formar o conhecimento da produção de uma peça com os artistas que lá estão. Os jovens, geralmente filhos e conhecidos dos artistas, começam desde a infância e adolescência com trabalhos mais simples como lixar as peças ou pequenos cortes, para depois haver uma evolução a ponto de esculpi-la.
Com apoio do SEBRAE e da prefeitura de Juazeiro, os artesãos expõe as peças mais grandiosas e elaboradas na maior feira de arte da América Latina a Fenearte em Recife – e que conta com a presença de compradores do mundo todo. Assim como acontece convites de Universidades, empresas, feiras populares e redes de televisão para a exposição das obras.

Din Alves
Vice Presidente do Centro Cultural Mestre Noza
30 anos. Começou no Mestre Noza com 13 anos.
Já viajou para diversos lugares, inclusive Rio de Janeiro para exibir suas peças.
Participou como figurante da novela 'A Lei do Amor' exibida na Rede Globo.
Promove minicursos de artesanato na madeira pela Universidade Federal Fluminense.
“Somos contratados para fazer esculturas para lojistas, turistas e para a Globo.”